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sexta-feira, 18 de novembro de 2011

POVÃO QUE LUTA: MISERAVELMENTE DESIGUAL

Miseravelmente desigual

Os contrastes são a riqueza e a miséria do Brasil. A pluralidade social, em todas as suas dimensões, é o que de mais belo o País possui. Mas as contradições são também a grande miséria nacional. O Censo 2010 mostra a persistência de realidades inadmissíveis no século XXI. Apesar da comemorada ascensão da nova classe média, dos milhões que saíram da miséria, do festejado sucesso das políticas de distribuição de renda, o nível de desigualdade permanece alarmante. O que, infelizmente, não chega a ser surpresa. O que surpreende, a esta altura do avanço civilizatório, é a persistência de arcaicas segregações étnicas e de gênero. O IBGE revelou que 31,5% da população branca do Estado recebe um salário mínimo ou menos de renda. Entre os negros cearenses, o índice salta para 43,8% que integram a parcela mais pobre dos cearenses. Do lado inverso da pirâmide social, os brancos com renda superior a 20 salários mínimos representam 0,39% do total do segmento. Pouco, sem dúvida. Mas o percentual é, ainda assim, mais de sete vezes maior que os 0,05% de negros que possuem esse nível de renda. Em média, a renda dos brancos - R$ 1.066 - é quase o dobro dos R$ 569 recebidos pelos negros. O analfabetismo entre os brancos é de absurdos e inaceitáveis 22%. Entre os negros, o percentual atinge 30,5%. Pesquisa divulgada ontem pelo Instituto de Desenvolvimento do Trabalho (IDT) atesta que os negros, no Ceará, possuem relações de trabalho bem mais precárias que o resto da população, em média.

Entre homens e mulheres, a diferença de renda é mais sutil, mas real. Cearenses do sexo masculino com renda mensal de até um salário mínimo são 33,5%. As mulheres são 36,81%. Já a faixa com renda acima de 20 salários mínimos mensais representa 0,09% das mulheres. Os homens não chegam a constituir percentual expressivo. Mesmo assim, são mais que o triplo da população cearense do sexo feminino: 0,28%.

OS ALICERCES DO PAÍS
As disparidades de renda, sexo, etnia, além de orientação sexual e tantas outras, são parte dos alicerces sobre os quais o Brasil foi constituído. Três quartos da história oficial do País ocorreram sob a égide da escravidão como motor econômico. De forma extraoficial, a discriminação contra mulheres e negros esteve presente, em algum grau, ao longo de toda a história brasileira. Com a abolição dos escravos, não houve uma política pública sequer para inserção do segmento na sociedade. Aposta-se em iniciativas de alcance geral. Mesmo sem ações focalizadas, voltadas para reduzir as disparidades seculares, é natural que as diferenças continuem a cair gradualmente. É o curso natural do ciclo histórico. No entanto, as mudanças ocorrem de forma muito lenta, enquanto o atraso já é enorme. Políticas de cotas são limitadas, falhas, repletas de equívocos e insuficientes. Provocam distorções e os resultados ainda são duvidosos. Infelizmente, contudo, não se conseguiu construir forma melhor de atacar as desigualdades, de forma específica. Elas são problemáticas, mas não se pode acabar com elas sem colocar nada melhor no lugar. Se não forem as cotas, o País precisa discutir quais serão as soluções para atacar um drama social que permanece tristemente vivo. A postura displicente de fingir que o problema não existe não pode continuar a ser a resposta do País a essa realidade.

CONCENTRAÇÃO NUNCA FOI TÃO GRANDE
O primeiro censo foi realizado no Brasil em 1872, ainda no Império. O mais recente foi no ano passado. No intervalo de 138 anos, jamais o Ceará teve a população tão concentrada em Fortaleza quanto agora. Em 1872, a Capital concentrava 5,9% da população do Estado. Em 1890, no primeiro levantamento estatístico do período republicano, o percentual caiu para 5,1%. Desde então, o crescimento é constante. Em 1950, 10% da população cearense vivia em Fortaleza. Em 2000, eram 28,8%. Agora, são 29%. A expansão foi galopante entre as décadas de 1950 e 1990. Nos últimos 20 anos, perdeu velocidade. Espera-se que o ápice da concentração populacional já tenha chegado. A tendência, ao longo dessa década, é de gradual redução do percentual de habitantes do Estado que vive em Fortaleza. O tamanho exagerado de Fortaleza em relação aos demais municípios não é apenas populacional e tem efeitos muito negativos para o conjunto do Estado. A chamada macrocefalia foi resultado da gradual concentração de riquezas, serviços e da parca presença do poder público no Interior. O Sertão empobreceu, enquanto culturas estratégicas entraram em crise – notadamente o algodão. Ao mesmo tempo, a Capital inchou. Recebeu contingente num ritmo muito mais acelerado que poderia suportar. Expandiu-se de forma desordenada e sem o necessário planejamento.

As políticas para descentralizar a atração de indústrias tiveram resultados tímidos. Ao longo da última década, a descentralização do ensino universitário talvez tenha sido a mais importante política de Estado para reverter esse quadro. É natural que, nos próximos anos, a tendência comece a se inverter. No atual cenário, tanto Capital quanto Interior perdem.

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